sábado, 2 de julho de 2011

Amar é real

Por 3 poetas português e 1 compositor inglês.


Luís de Camões - século XVI

Transforma-se o amador na cousa amada
Por virtude do muito imaginar,
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada. 

Se nela está minha alma transformada
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está ligada. 

Herberto Helder - século XX

Transforma-se o amador na coisa amada 
com seu feroz sorriso, os dentes,
as mãos que relampejam no escuro.
Traz ruído e silêncio. Traz o barulho das ondas frias 
e das ardentes pedras que tem dentro de si. 
E cobre esse ruído rudimentar com o assombrado
silêncio da sua última vida.
O amador transforma-se de instante para instante,
e sente-se o espírito imortal do amor
criando a carne em extremas atmosferas, acima 
de todas as coisas mortas.
 
Carlos Felipe Moisés - século XXI

Transforma-se o amador em coisa alguma,
sem dolo, sem virtude, sem razão.
Por muito amar, dispersa o coração
e rói daquilo que é a alma nenhuma.

As esperanças perder, uma a uma,
de decifrar o rosto da paixão.
Sem rumo, ilhado entre o sim e o não,
perde-se no amor de um mar sem espuma.

Love - John Lennon

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