Tchitcho, de Paulo Brabo
Eu vi um menino varrendo a frente de sua casa como há tempos não via. Ele era um menino muito novo ainda. A vassoura, segurada com uma certa dificuldade, chegava a ser maior do que ele.
Alguns instantes atrás a mãe do menino lhe pediu ajuda para limpar a casa. O vento do final da tarde de outono trazia as folhas das árvores da rua para dentro da garagem. Varrê-las naquele momento significaria uma limpeza apenas por algumas horas. Mas como toda boa mãe, e a mãe daquele menino não era diferente, gostava de ver a casa sempre limpa.
O menino varria concentrado na tarefa. Tinha um semblante sério - raro para uma criança, diferente dos adultos. Uma seriedade adornada por um contentamento, uma satisfação de fazer o melhor de si naquilo que lhe foi proposto.
A ajuda do menino pode não ter sido a das melhores. Talvez ele não tenha feito nada além de atrapalhar, ou tenha sido inútil. Mas o desejo sincero do menino e seu exercício de prontidão contaram muito mais ao coração de sua mãe do que o sucesso ou o fracasso na tarefa de varrer as folhas.
A reação amorosa que despertou ao coração materno foi praticamente incontrolável. Quando o menino voltou para dentro, sua mãe o esperava sentada à mesa coberta de bolinhos de chuva, leite morno com chocolate e croissants de presunto e queijo. Tudo com um cheiro irresistível que o menino sentira logo ao abrir a porta.
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