sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Tempo.


"Vou acordar para o tempo e para o tempo parar."

O tempo venta. E seu vento é para cada um de nós um sopro diferente. O tempo não se vê. Como o vento, apenas se sente. Tempo é percepção. É sentido. Para mim o dia passou rápido, para você cada minuto foi uma hora, para nós o ano voou e para ele demorou.

Desde o princípio havia tempo, "No princípio criou Deus...", há um marco, um começo e uma ação de Deus. Esta ação de Deus sucede à Sua existência, Deus já existia no começo e antes dele. Deus está fora do tempo... e dentro dele.

"Costumamos pensar que todo o universo e até o próprio Deus passam do passado para o futuro, como nós fazemos." Para suavizar esta abstração, pensemos num exemplo prático: escrevo as seguintes linhas, "Mary largou o trabalho e logo em seguida ouviu baterem à porta", eu, o autor, estou fora do tempo de Mary, ou seja, não lhe atingirá em nada eu escrever a primeira metade da frase, parar e pensar horas e horas sobre os pensamentos de Mary, voltar e escrever a segunda metade da frase. As horas passadas nesta minha atividade não aparecerão no tempo da história de Mary. Este exemplo falha somente no fato do autor, que representa Deus, não pertencer ao tempo de sua criação (Mary), mas somente ao seu próprio tempo - Deus, porém, não pertence a nenhuma temporalidade.

"Deus não precisa se afobar no fluxo de tempo deste universo, assim como um escritor não precisa viver o tempo imaginário de seu romance."

Pensar em tempo é difícil (e às vezes chato, ou instigante) pois é pensar sobre o abstrato, é a abstração da abstração - e daí a mente se anuvia. Pensar em tempo é pensar em história. Toda história tem um tempo, todo tempo tem uma história - há um presente que pode ter sido influenciado pelo passado e que poderá mudar o futuro (ou não).

E Deus não tem tempo porque não tem história. Ter história é pertencer a um momento específico presente, conter coisas já intocáveis num passado e abster de algo que poderia ter mas se encontra num futuro - é submeter-se às possibilidades. E Deus "é tão absolutamente real que não pode ter" história. Se não ele perderia uma parte de sua realidade ao passado e deixaria de possuir outra pertencente ao futuro.

O papo de louco [baseado num livro de C.S. Lewis] sobre tempo, história e Deus continuará pois implica mais questões interessantes como, "Como fica meu livre-arbítrio, sabendo que Deus sabe o que irei fazer daqui a pouco?", "Por que sou tão dependente de meu tempo ao ponto de não conseguir ter um tempo-livre?", ou até "O tempo já parou alguma vez?".

Parafuseiam e um bom tempo de fim de semana a todos!

1. O Vento - Los Hermanos; 2. Do the Evolution - Pearl Jam; 3. O Tempo - Oficina G3

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