
Era Praia Grande, o céu estava cinzento e o tempo nublado desde quando chegamos. A chuva fina e constante nos desanimava a ir à praia, que ficava poucas quadras do prédio.
Mas no último dia, após dias de muito tédio, a gente merecia pelo menos pisar os pés na areia. As nuvens abriram um pequeno espaço para o Sol, e resolvemos ir. Seria uma passada rápida, pois já tínhamos que voltar para nossa cidade.
Queria entrar na água, brincar na areia, mas já estava vestido, arrumado para a viagem. Afastei-me de meus pais, e fui andando emburrado pela praia. Sentei-me na areia mesmo, logo que minha mãe gritou por mim pela primeira vez.
Avistei de longe, perto de minha mãe, andando a frente dela, um cachorrinho. Era um vira-lata, sujo, pêlos ásperos, alegre e agitado. Pensei como num filme: imaginei ele vindo até mim, me lambendo, consolando-me. Minha mãe já desistira só de me chamar e já vinha em minha direção. Olhei para sua direção, então, e quem já está perto de mim e pronto a me lamber era o cachorrinho. Não era mais imaginação, a vida imitava um filme.
Minhas mãos suspensas pelo apoio dos cotovelos nos joelhos agora sentiam a saliva e cócegas com a lambida e o afago do cachorrinho.
Minha mãe já abre um sorriso, admira-se com a cena e me chama para ir embora - todos esperavam já para fora da areia, na rua. Decido me levantar, tenho forças agora, um sorriso ainda contido se move em meu coração. Agradeço ao cachorrinho por me trazer paz e alegria. Posso ir embora, pois isso já valeu o dia, já valeu a praia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário