sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Escrita

O que escrevo? Quem sou eu quando escrevo? Quem escrevo? O que sou quando escrevo? Com quem escrevo? Para quem? Para que? Minha escrita é digna de mim? Sou digno de minha escrita? Pensando em escrever. Pensando em escrever só. Escrever não a solidão. Escrever com solidão. Uma busca. Para que as coisas sejam capazes de ser o que se propõem a ser. Fico com Drummond.

VERDADE
Carlos Drummond de Andrade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Um comentário:

Luciana Mendes disse...

Lucas!

Voltei a acessar seu blog e fiquei com a sensação de que perdi muita coisa boa durante o tempo em que não o li. Ele continua ótimo! Parabéns!