A exposição “De outros lugares” de Erick Santos de Jesus apresenta fotografias de lugares por onde ele passou em suas viagens – a trabalho, a passeio ou também retratos de lugares presentes no seu cotidiano.
Estão expostas fotografias de grandes cidades, como a capital espanhola Madrid, a cidade de São Paulo e a capital da Argentina, Buenos Aires. Ao passo que também estão presentes fotos do pequeno povoado de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, de pequenas cidades, como Saquarema, no litoral do Rio de Janeiro; a pacata Toledo, na Espanha, e a emergente Suzano, na Grande São Paulo - para citar apenas alguns dos 20 lugares retratados pelo artista baiano.
O personagem de Grande Sertão: veredas, obra de Guimarães Rosa, afirma num determinado momento: “Eu sou donde nasci, sou de outros lugares”. Ao contrário do que possa ser interpretado como uma desvalorização do lugar de nascimento ou da pátria-mãe, o personagem, na verdade, revela seu sentimento de pertencimento a todos lugares e a sua condição de homem universal. É como almeja se expressar o artista Erick Santos por meio de suas fotografias.
Ao retratar diversas localidades, em diferentes aspectos e formas, Erick Santos nos concede fragmentos do seu olhar sensível àquilo que a muitos dos transeuntes se passa despercebido. Muitos são pontos cegos da cidade captados pela lente de quem tenta descobrir as máscaras e mostrar sua face nua, aquilo que a cidade mais teme revelar. São também momentos singulares das ruas em que as cores parecem se encontrar para uma dança e se exibir para a câmera do artista. Há as paisagens fotografadas que se configuram diante do espectador de uma forma a lhe proporcionar uma visão além do plano natural evidenciado. As imagens da natureza tornam-se combinações de traços, linhas e formas, trazem uma conjugação de luz e sombra, que conferem à fotografia uma geometridade única, que é rara ao olhar puro de um turista ou passante qualquer.
Seus lugares retratados são distintos entre si e distantes um do outro, às vezes, por milhares de quilômetros. Natural de Tucano, interior da Bahia, e desde a infância morando em Suzano, Erick Santos de Jesus foi conhecendo novos caminhos pelas metrópoles São Paulo, Madrid, Porto Alegre, Buenos Aires e lugares pequenos, Vale do Jequitinhonha, São Miguel das Missões - e sempre delineando suas sensações com o registro fotográfico. O sentimento de pertecimento a todos estes e outros lugares foi se desenvolvendo pela contemplação da unidade da beleza e da verdade presente por onde passava. O impulso que é intrínseco ao artista para uma elevação do desenvolvimento da personalidade combinou-se com a natureza multifacetada e comum a todos lugares percorridos - atrelado à sensibilidade de se relacionar com a humanidade particular de cada lugar, fazendo surgir no artista a consciência de um “homem universal”.
Assim como o historiador de arte Jacob Burckhardt teoriza sobre a transformação da arte no fim da Idade Média. Antes, o homem reconhecia-se a si mesmo apenas como povo, família ou qualquer outra forma de coletivo. O subjetivo se despertará tornando o homem um indivíduo reconhecendo-se como tal. O estágio mais elevado deste individualismo será o cosmopolitismo, desenvolvendo em plenitude o homem universal – em comunhão, há o renascimento da arte renascida pelos artistas, chamados modernos. O que levará Dante Alighieri dizer que “Minha pátria é o mundo todo”; e o escultor italiano renascentista Lorenzo Ghiberti afirmar que é um “cidadão de todas as terras”.
A beleza manifestada pela concentração das cores e sua harmonia com os sabores e com o calor vívido das gentes une os lugares e as paisagens das cidades retratadas. A contemplação dos céus com toda sua extensão pluralizada pelo colorido, as diversas temporalidades da natureza e da cidade mostradas nas fotografias nos compartilham o sentimento do artista de união com todo o mundo.
Seja pelos céus, pelas ruas, pela natureza ou pelas pessoas, a exposição de fotografias de Erick Santos nos leva para perto de lugares distantes e belos e nos faz sentir, sobretudo, mais próximos da beleza do homem e da natureza. Somos convidados a viajar juntos com aquilo que nos é diferente, à primeira vista. Como a porta aberta do ônibus fotografado em Buenos Aires, sua arte nos possiblita entrar numa viagem de conhecimento de outros lugares e perceber que o que temos em comum é mais essencial do que aquilo que nos diferencia.
O conhecimento do outro ganha valor na obra do artista Erick Santos de Jesus. Será pelo caminho da alteridade que o artista conhecerá mais de si. Sua arte está além de mostrar a beleza de outros lugares. Revela que o autoconhecimento passa pelo conhecimento do meu próximo. E que, na verdade, todos provemos não só donde nascemos mas tamém de outros lugares. Por onde for e por onde respirar, ali será o seu lugar – como no verso de Álvares de Azevedo, em Lira dos Vinte Anos: “Minha pátria é o vento que respiro”.
Lucas Lyra Cavalcante, tenta terminar a faculdade de História pela USP, é amigo do Erick desde o tempo que trabalhava no MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) e aprendeu muito sobre fotografia com este baiano.
3 comentários:
hummmmmmm....quero ver essa eposição...a sua propaganda foi ótima, a forma como vc retratou a forma como ele olha cada detalhe por onde passa...e está é a principal caracteristica de um artista é isso, principalemnte de um fotógrafo é ter a percepção para ver tudo e qualker coisa de uma forma que ninguém mais se atenta para ver, é essa a essencia de grandes registros!
abraço
Lyra, muito obrigado
vc é um grande amigo!!
Valeu!!
E até a grande festa da exposição, dia 24 de abril, em Suzano!!
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