quarta-feira, 8 de abril de 2009

Nossa Páscoa

Ano passado escrevi alguns relatos sobre a Páscoa, mas faltou o final da história. Agora estão todos reunidos aqui, e em breve o final estará aqui também.

I

Foi lá fora chamar seu vizinho para dividir a comida. Havia bastante, ia sobrar com certeza. O cordeiro era grande demais só para a família dele comer.

Quatro dias depois, o animal é morto - sua solitária lágrima cai, num silencioso pôr-do-Sol. O pincel de madeira é banhado no sangue, e passado nas portas das casas.

As mulheres, então, preparam as ervas amargas e o pão - enquanto o cordeiro é assado.

"- Não coloca o fermento no pão!" - adverte a mulher à sua vizinha.

Sentados à mesa, comem. Fartam-se! O amargo das ervas prenuncia a dureza do futuro nos desertos. Tentam não deixar sobrar nenhum pedaço de carne.

O pão puro, sem fermento, leva-os à descoberta do coração de toda falsidade e enobrece a verdade.

As crianças deixam sobras nos pratos. As mães recolhem, separam tudo na velha vasilha para, logo mais, os maridos colocarem fogo em tudo!

O sacrifício é único - não pode sobrar restos.


Famílias unidas, todos preparados.

Cajado na mão

Sandálias no pés, cinto no lugar

Esta é a Páscoa, eu estou pronto para Passar

Páscoa é passagem!
Vida! Páscoa é memória!

II


De acordo com a tradição oral judaica, o cordeiro era uma das divindades egípcias. O sacrifício do cordeiro na Páscoa dos judeus significa a rejeição às crenças pagãs e a devoção a Deus. O cordeiro assado é acompanhado do pão sem fermento - pois, na noite da primeira Páscoa, não haveria tempo suficiente para que o pão crescesse - e de maror, as ervas amargas. O conjunto disso tudo é o jantar pascal - chamado de seder. Após o jantar, a morte passou por todas as casas do Egito - as que estavam marcadas com o sangue do cordeiro eram poupadas. Por isso o feriado foi chamado de Páscoa, ou Pessach (no hebraico, passar sobre).

III

Correra para aproveitar a água da bica - enchia seu pote. O caminho da casa já estava decorado. Caminhou até o lugar combinado. Estava tudo preparado - era só esperar.

O velho arrumara a casa desde cedo. Limpo o chão, ajeitados os móveis - acendia as velas enquanto o sol já ia se pondo. Estáa tudo preparado - era só esperar.

"Vão preparar a refeição da Páscoa."

Pois íam eles lá. Numa esquina avistaram o jovem, apressaram-se os dois para o encontrar. Logo o seguiram até a casa.

"Que maravilha! Como está bonita toda a sala!" - exclamavam.

O cordeiro puro já era assado, os pães sem fermento e as ervas amargas já sobre a mesa. Estava tudo preparado - era só esperar.
Ansiedade. Os onze homens, finalmente, chegam. A festa pode começar, a páscoa é celebrada! A passagem é relembrada.

Uma nova passagem agora se anuncia: a da vida para a morte - mas era somente o primeiro passo para que a vida vença a morte. Estava tudo preparado - era só esperar.
Seria a última refeição pascal de todos juntos.

IV

"Uma vez que as velas do feriado estão acesas, o seder [refeição pascal] começa com a bênção sobre o primeiro copo de vinho - haverá ao menos mais três copos de vinho antes do final da noite. Os quatro copos de vinho representam as promessas feitas por Deus aos israelitas: que Deus os libertaria do peso do cativeiro, os libertaria da escravidão, os guiaria com um braço estendido e os levaria à Terra Prometida. O seder é concluído com um poema e uma canção, terminando com as palavras Le shana haba'ah b'Yerushalayim [No próximo ano em Jerusalém]."

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