quinta-feira, 12 de março de 2009

O observador

Quando criança costumava sentar no meio do quintal de casa. Aquela casa tinha um quintal bem grande, com uma parte de chão de terra e outra de chão de concreto. Tínhamos até uma pequena plantação de cana-de-açúcar. Ali eu passava extensas horas da tarde a contemplar os céus e suas nuvens. Quando não tinha nuvem era quando eu podia observar o que descobrira há dias. Eu via a Terra se movimentar. A Terra se movimenta de duas maneiras, a rotação e a translação. Aprendi isto na escola, e também que não é possível o ser humano sentir esses movimentos. Sentia-me um descobridor. Como Pedro Álvares Cabral, Colombo ou qualquer um daqueles grandes desbravadores que via na escola.

A propósito, dizem que, Colombo descobriu que o Planeta Terra não era plano, como se pensava em sua época, ao observar um barco se desvanecendo pelo horizonte. Diante de uma situação extremamente inédita e exótica, é possível que o sujeito, mais que não a compreender, simplesmente não se atente nem a veja. Assim, talvez os índios da costa onde as naus dos europeu atracaram não viram a chegada das embarcações, mesmo de olhos abertos e de frente para elas. A visão só foi alcançada quando algum deles observou a estranha agitação do mar. Foi a partir de algo que lhes era conhecido que puderam experimentar a novidade. A diferença está no olhar, no observar.

Minha mãe, com certeza, deve ter achado no mínimo estranho um filho seu lhe dizer que estava vendo o Planeta Terra rodar. Ela me falou que era apenas uma ilusão por causa do caminhar das nuvens. Toda tarde, então, eu confirmava o que via, quando tudo se desanuviava. A Terra se movimentava sim... e eu a sentia. Um habitante do universo é o que me tornei a partir daquele momento. Alguém transcendente à atmosfera deste planeta, um ser vivente pertencente a algo muito maior do que já é imenso, a um além.

Um comentário:

Anônimo disse...

hum.. garoto de olhos precoces!

é necessário ter sensibilidade para enxergar o diferente, o belo, mesmo pq, na maioria das vezes, sempre esteve lá..