O PUNHAL - Manoel de Barros
Eu vi uma cigarra atravessada pelo sol - como se um punhal atravessasse o corpo.
Um menino foi, chegou perto da cigarra, e disse que ela nem gemia.
Verifiquei com os meus olhos que o punhal estava atolado no corpo da cigarra
E que ela nem gemia!
Fotografei essa metáfora.
Ao fundo da foto aparece o punhal em brasa.
5 comentários:
Como é difícil encontrar inusitadas (e boas) metáforas!
Essa me impressionou...
É... a poesia dele sempre me impressionou pela simplicidade, pelo que há de mais singelo nas palavras. E consegue assim construir um mundo de metáforas, de significados com as palavras mais simples da natureza.
O único poema que li dele, além deste, foi O Encantador de palavras, também postado no seu blog. Lindo, aliás! Identifiquei-me muito com ele!
Mas voltando ao Punhal... concordo que há beleza na figura singela (com aspas - não as encontrei no meu teclado) do sol, mas o que achei mais legal de tudo foi essa contraparte de o ter comparado a um punhal, o que, na minha opinião, foge do simples por ser inusitado. Sem falar no modo como o poeta descreve o efeito do punhal no corpo da cigarra... muito intenso!
Definitivamente, vou atrás de mais textos deste autor!
Só complementando meu último comentário:
A voz no poema "Encantador de palavras" (achei as aspas, rs) fala a respeito do poderoso, como sendo aquele que descobre as insignificâncias do mundo e das coisas... isso me fez lembrar Dostoievski e sua forma de retratar personagens insignificantes à primeira vista. Ele nos leva à óbvia, porém ignorada conclusão de que todo ser humano é complexo, mesmo não sendo consciente de sua complexidade.
P.S. Acho que eu deveria ter postado este comentário lá no outro poema, mas tudo bem, rs.
Legal suas observações!!
;)
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