terça-feira, 29 de julho de 2008

Um ponto e interrogações

O que pensava eu não sabia, só podia imaginar. Chamou atenção pelo jeito meio de doido, pelas roupas esquisitas - parecia falar sozinha.

O que vive eu não sei, nem o que estava vendo pela janela do ônibus. Será que havia descoberto algo que há muito tempo procurava? Será que apenas descobriu que aquele ônibus que esperou um dia passa, sim, no ponto?

Ei, você!

Não ouvia, olhava atenta para o outro lado da rua. O que será que tanto prendia sua atenção? Não ouviu. Fui em direção ao seu ombro para lhe chamar, mas antes que encostasse percebeu que o cobrador falava alguma coisa. Tirou um fone de ouvido e atentou-se a ele:

Pode descer neste ponto.
Ah, tá! Valeu...

Desceu do ônibus parecendo sorrir de alguma coisa externa ao ônibus. Será que era daquilo que tanto olhara? Desceu do ônibus deixando interrogações. Em cada passo, em cada peça de roupa, cada traço do rosto deixou cair uma interrogação, enquanto o cobrador comentava com o motorista:

Ele não tava ouvindo. Também com walkman não vai ouvir mesmo!

Ele? Não era ela? Ela? Sobraram as interrogações, reinou o mistério.

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