"- História! - exclamei, assustado. - Minha história? Mas quem lhe disse que eu tenho uma história? Eu não tenho história...
- Não há remédio senão tê-la... Como poderia ter vivido no mundo sem ter história? - respondeu ela, rindo.
- Oh, pois acredite em mim: não tenho história, em absoluto! Porque vivi para mim mesmo, como se costuma dizer, só, completamente só, sempre só, completamente só. Sabe o que quer dizer "só"? Pois é isso.
- Mas que espécie de homem é o senhor? Quer explicar-me?
- Bem; pois eu sou um... tipo. Um tipo... é um indivíduo original. Uma espécie de coruja cômica. Só existem... como lhe direi? Caracteres. Mas sabe o que é um sonhador?
- Um sonhador? Claro que sei. Eu mesma sou uma sonhadora.
- Um sonhador não é um homem, saiba, mas antes uma criatura de sexo neutro. Em geral, vive o sonhador longe do mundo inteiro, em um rincão retraído, como se quisesse ocultar-se até da luz do dia, e assim que se instala em seu tugúrio [abrigo], cresce com ele do mesmo modo que o caracol com sua concha, ou pelo menos se assemelha a esse animalzinho notável, que é ambas as coisas, o animal e sua casa, e a que chamamos de tartaruga."
Noites Brancas [adaptado] :: Dostoiévski
2 comentários:
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"Ótimo texto...
Sabe que meu maior medo é este, de acabar me tornando uma tartaruga...viver somente de sonhos e distante do mundo...Penso sempre como seria minha história, afinal ela só depende de nós, não é?"
Boa noite! :))
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