quarta-feira, 11 de maio de 2011

Bebê, caí, levantá, é só começar!

Comentário sobre o poema "Relicário", de Oswald de Andrande.

Ninguém imaginaria que, no auge de um suntuoso baile da corte, no primeiros anos do séuclo passado,  da boca de um francês da realeza, o conde d’Eu, seriam proferidas palavras como pinga, Baependi, pitá e Suruí. Muito menos a Dona Benvinda, interlocutora na cena apresentada por Oswald de Andrade, no poema “Relicário” - parte da obra modernista “Pau Brasil”, de 1925.

A concepção de um Brasil configurado a partir da multiplicidade cultural representada nas diversas figuras étnicas conformadas numa mesma terra ao longo de séculos, pode ser identificada no conjunto de elementos trazidos no poema, a saber: a farinha de Suruí, a pinga de Parati, o fumo de Baependi. 

Parece haver uma tentativa de síntese do amálgama cultural brasileiro a partir destes elementos representativos da cultura indígena, africana e cabocla. A tudo isto também se junta a figura popular de Dona Benvinda e do estrangeiro conde d’Eu, demonstrando a heterogeneidade que um país como o Brasil tem.

O fator extraordinário do poema tem início em seu próprio título, “Relicário”. Não só como uma tentativa de apresentar o conjunto de elementos identitários do Brasil, o poema defende a valorização do que se pensava não ter nenhuma riqueza cultural. 

Partindo de um tradicional baile da corte, Oswald percorre o caminho das coisas mais naturais ao Brasil da época, - as verdadeiras relíquias da terra brasilis, para o modernista – chegando naquilo que todos, possivelmente, até o europeu conde d’Eu, tenham percebido como a paixão comum da nação: o prazer de “comê bebê pitá e caí”.

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