Nem Deus, nem senhor. Ao rejeitar senhores, política, economia, os anarquistas também rejeitaram os mestres religiosos e o Deus que eles afirmam seguir. Todo problema está, então, na ideia que é feita de Deus.
Confesso que foi a série Guerra dos Tronos que me ajudou a compreender a figura do Rei sobre seu reino e pude relacioná-la com o que tanto se afirma nos cultos das igrejas de hoje: Deus é o nosso Rei! Jesus é meu Senhor!
Desde que eu nasci nunca conheci nem um Rei, nem Senhor. Mas sei que também a Bíblia traz inúmeros textos que tratam Deus como Rei e Senhor.
Mas o problema surge quando encerramos a imagem de Deus como Rei e Senhor. A Bíblia demonstra muito mais que isso. Deus está para além de seu poder, chegando a limitá-lo quando decidi agir com amor. Por mais estranho que pareça, Deus consegue ser o Todo-Poderoso enquanto é O Amor. Esses dois atributos não se excluem.
Não foi só Jesus que ensinou que Deus é amor. A Bíblia hebraica também nos mostra esta sua face. Com Noé, com os hebreus no Êxodo, com Elias, com Jonas e Nínive... O verdadeiro rosto do Deus da Bíblia é o Amor, lembra Jacques Ellul.
O amor que não se finda em palavras. O amor que é verbo para ser vivido. É o único modo de saber se estamos vivendo a realidade de Deus, disse S. João sobre o amor. O amor não é algo que você pode segurar ou gritar, canta John Mayer. O amor é simples, pode ser a leve brisa que se esvai para o profeta Elias. O amor não é uma coisa. O amor é divino e Deus é amor.
Se os anarquistas conhecessem este lado da história - o lado verdadeiro de Deus, (mas antes, se os cristãos tivessem demonstrado esse amor) - creio que eles não concordariam com a expressão: "Nem amor, nem senhor!"